Tuesday, May 24, 2005
correspondência de praga
as ruas de praga têm som de jazz e a alemanha oriental é mais minha cara. de frankfurt tomamos o trem pra leipzig, cidade de compositores como bach. seguimos pra dresden, cidade de destruição e motivo das fotografias de robert capa e lee miller no fim da guerra. só ano que vem terminam de reconstruir o que têm como símbolo da cidade, a frauenkirche. o lado de lá tem muros pixados e calçadas quebradas. tem gente que sorri nas ruas e sol que queima a pele de verdade. tem fôlego coletivo e febre de novidade o charme da alemanha que penou sob domínio soviético. está longe da esterilidade do plano marshall e cidades sobre colinas. sobrou caos no lado onde os americanos demoraram pra chegar. sou mais dresden, mas já te vejo em frankfurt. se você ainda é o mesmo, as células francoforteanas e os strassebahn sempre pontuais no percorrer caminhos de assepsia vão te tocar mais forte. a alemanha cola como resina e piche.
consertavam muitas calçadas de praga adornadas com trilhos e jazz. o metrô é vermelho e tem motivos futuristas. o bairro judeu é art nouveau e todo mucha. tem um portinari solitário na galeria nacional que chora como um orozco de linhas duras. não por acaso fica perto dos expressionistas alemães, dix e grosz. henri rousseau brilha com seu sarro parisiense e lichtenstein teve tempo de golpear praga com suas tiras de violência plush.
a cidade derrama amor. desejo e vontade despejam dos bondes de rua. as mulheres evocam modigliani, os homens têm a dureza de cristal líquido no verão em mandíbulas pétreas. rosas e o café onde kafka escrevia. cemitério judeu e sinagogas na linha de
trams rosa e corujas e águias nos jardins do castelo. os bicos dos peitos se arrepiam com o vento do vltava. as mulheres de praga não usam sutiã e trajam calças
escuras com sandálias delicadas. é primavera na cidade das revoluções. o jan hus continua verde e sólido na praça velha. agora entendo como as minissaias derrubaram os tanques soviéticos. assim explicou kundera. e sua teresa era uma jornalista que corria com sede por essas ruas, a lee miller de praga.
atrás da wenceslas tem a rua mais perfeita. escancara o teatro tcheco, deixa ver as engrenagens da praga depois do palácz lucerna. mostra o desenrolar em direção a vinohrady, bairro moderno com antenas de transmissão e baladas gls. os bondes de rua passam mais rápido por aqui. o café é mais industrial e as lojas tocam música cubana sem medo. são os hinos de uma praga quase paulistana com seus cavalos dependurados dos tetos e um choro preto de caos e faminto de progresso. é a cara capitalista do que nunca foi fortaleza de ideais contrários. é a cara do barroco e neo-gótico que sobreviveu à destruição de um século ardente.
já voltei de praga. atravessei a áustria com arranhões tchecos de realidade e o medo dos subúrbios padronizados da estação haje. voltei ciente da invasão britânica: tesco, penny market, marks & spencers e a bbc na czech news agency. e sobra espaço pra fascínio e resistência à privatização. os jornalistas de praga preferem nova york.
consertavam muitas calçadas de praga adornadas com trilhos e jazz. o metrô é vermelho e tem motivos futuristas. o bairro judeu é art nouveau e todo mucha. tem um portinari solitário na galeria nacional que chora como um orozco de linhas duras. não por acaso fica perto dos expressionistas alemães, dix e grosz. henri rousseau brilha com seu sarro parisiense e lichtenstein teve tempo de golpear praga com suas tiras de violência plush.
a cidade derrama amor. desejo e vontade despejam dos bondes de rua. as mulheres evocam modigliani, os homens têm a dureza de cristal líquido no verão em mandíbulas pétreas. rosas e o café onde kafka escrevia. cemitério judeu e sinagogas na linha de
trams rosa e corujas e águias nos jardins do castelo. os bicos dos peitos se arrepiam com o vento do vltava. as mulheres de praga não usam sutiã e trajam calças
escuras com sandálias delicadas. é primavera na cidade das revoluções. o jan hus continua verde e sólido na praça velha. agora entendo como as minissaias derrubaram os tanques soviéticos. assim explicou kundera. e sua teresa era uma jornalista que corria com sede por essas ruas, a lee miller de praga.
atrás da wenceslas tem a rua mais perfeita. escancara o teatro tcheco, deixa ver as engrenagens da praga depois do palácz lucerna. mostra o desenrolar em direção a vinohrady, bairro moderno com antenas de transmissão e baladas gls. os bondes de rua passam mais rápido por aqui. o café é mais industrial e as lojas tocam música cubana sem medo. são os hinos de uma praga quase paulistana com seus cavalos dependurados dos tetos e um choro preto de caos e faminto de progresso. é a cara capitalista do que nunca foi fortaleza de ideais contrários. é a cara do barroco e neo-gótico que sobreviveu à destruição de um século ardente.
já voltei de praga. atravessei a áustria com arranhões tchecos de realidade e o medo dos subúrbios padronizados da estação haje. voltei ciente da invasão britânica: tesco, penny market, marks & spencers e a bbc na czech news agency. e sobra espaço pra fascínio e resistência à privatização. os jornalistas de praga preferem nova york.