Wednesday, March 09, 2005
o salto
Na queda livre, as luzes iam mais rápido. Ficava imaginando cair. Todos os dias pela manhã, ao lavar o rosto com sabonete hidratante, pensava no calor das luzes por trás da neblina que os prédios exalavam. Seria mais veloz de cabeça pra baixo. De uma só vez não sentiria tanto o vento e se concentraria na fumaça e nas sirenes. Talvez seria melhor enterrar as unhas na pele do pescoço. Então assim.
Acordou pra ver que deixara um bilhete. Foi pra Sicília sem mais. Pegou aquele trem que atravessa o mar de balsa. No dorso da embarcação. Estaria ela sem sentir nada. Era época de laranjas por lá. Foi pelo gosto cítrico. Não agüentava mais água sabor trilho.
Tomou seu banho quente de vapor seco. A pele esticada rangia. Era o gelo que escorregava montanha abaixo e bloqueava o trânsito perto da estação. Tinha policiais confusos, ônibus imóveis, metrô parado. A barba por fazer olhava feia do espelho. O olho esquerdo fazia força pra perder o vermelho. O direito normal, sem beleza.
Andou sem roupa pelo quarto. Também já não podia com os pelos da barriga.
Descascou uma laranja com as mãos. Roxíssima, engano. Passada, podre. Só na Sicília onde ela estava sem sentir nada. Já não podia. E a chuva continuava presa lá nas montanhas. O mar confuso entre inverno e África.
O telefone mudo e janelas que dão pra avenida do hospital. Passam ambulâncias. Sirenes e gritos sem voz. Pele descamada e dor nas costas e nos ombros. Era melhor pular à noite. Não haveria tanta gente pra ver. Mas as cortinas de ferro teriam que permanecer abertas o dia todo. Talvez alguém estivesse olhando.
Do outro lado da rua, sua sombra dançava mais feia. Zombava da figura deixada pra trás. Ela estava na Sicília e não sentia nada. Ele, esquecido, sentia só a pele ficar menor que as vísceras. Encolhia de calor ártico. Logrou ter sangue azul sem alquimia. Nada do ouro de Florença. A última laranja descascada e não comida já estava no lixo. O último trem pra Palermo já saíra. Sem mais.
Acordou pra ver que deixara um bilhete. Foi pra Sicília sem mais. Pegou aquele trem que atravessa o mar de balsa. No dorso da embarcação. Estaria ela sem sentir nada. Era época de laranjas por lá. Foi pelo gosto cítrico. Não agüentava mais água sabor trilho.
Tomou seu banho quente de vapor seco. A pele esticada rangia. Era o gelo que escorregava montanha abaixo e bloqueava o trânsito perto da estação. Tinha policiais confusos, ônibus imóveis, metrô parado. A barba por fazer olhava feia do espelho. O olho esquerdo fazia força pra perder o vermelho. O direito normal, sem beleza.
Andou sem roupa pelo quarto. Também já não podia com os pelos da barriga.
Descascou uma laranja com as mãos. Roxíssima, engano. Passada, podre. Só na Sicília onde ela estava sem sentir nada. Já não podia. E a chuva continuava presa lá nas montanhas. O mar confuso entre inverno e África.
O telefone mudo e janelas que dão pra avenida do hospital. Passam ambulâncias. Sirenes e gritos sem voz. Pele descamada e dor nas costas e nos ombros. Era melhor pular à noite. Não haveria tanta gente pra ver. Mas as cortinas de ferro teriam que permanecer abertas o dia todo. Talvez alguém estivesse olhando.
Do outro lado da rua, sua sombra dançava mais feia. Zombava da figura deixada pra trás. Ela estava na Sicília e não sentia nada. Ele, esquecido, sentia só a pele ficar menor que as vísceras. Encolhia de calor ártico. Logrou ter sangue azul sem alquimia. Nada do ouro de Florença. A última laranja descascada e não comida já estava no lixo. O último trem pra Palermo já saíra. Sem mais.
Comments:
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Silas meu querido.
Estou com saudades de você e do seu abraço, nos raros dias em que te encontrava pelo CJE.
Estou com saudades das nossas conversas, das nossas revelações, de te contar meus segredos mais secretos como se estivesse falando comigo mesma.
Estou com saudades de ouvir os teus segredos e te oferecer os meus conselhos que eu própria não seguiria.
Estou com saudades dos seus óculos, da sua bolsa que você carregava no ombro, da sua risada inconfundível e das suas camisas coloridas.
Estou morrendo de saudades de você. Não vou pedir pra você voltar logo porque é egoísmo da minha parte. Mas se você demorar um dia eu apareço na sua porta e você vai ter que expulsar quem estiver na sua cama para dividi-la comigo.
Um grande beijo,
Carol (jornot)
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Estou com saudades de você e do seu abraço, nos raros dias em que te encontrava pelo CJE.
Estou com saudades das nossas conversas, das nossas revelações, de te contar meus segredos mais secretos como se estivesse falando comigo mesma.
Estou com saudades de ouvir os teus segredos e te oferecer os meus conselhos que eu própria não seguiria.
Estou com saudades dos seus óculos, da sua bolsa que você carregava no ombro, da sua risada inconfundível e das suas camisas coloridas.
Estou morrendo de saudades de você. Não vou pedir pra você voltar logo porque é egoísmo da minha parte. Mas se você demorar um dia eu apareço na sua porta e você vai ter que expulsar quem estiver na sua cama para dividi-la comigo.
Um grande beijo,
Carol (jornot)
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