Friday, February 04, 2005
amsterdã
Amsterdã é um relógio. A cidade roda em cima de engrenagens de canais, trilhos e bicicletas. Não há ruídos aqui, só o leve roçar metálico dos trens de superfície e sinos de igrejas distantes.
Damrak, na saída da Centraal Station, é uma avenida principal que leva até o centro, a partir de onde a cidade é cortada por canais concêntricos. São três, Herengracht, Keizersgracht e Prinsengracht. Os prédios que margeiam os canais, datados do século XV, debruçam-se sobre a água ou pendem para o lado. Os alicerces de madeira não resistem ao tempo e à infiltração da água que circunda a cidade, que fica dois metros abaixo do nível do mar.
O movimento das construções é lento, centímetros a cada década. Mesmo corroídas, as bases dos prédios parecem não respeitar o tempo. Aqui, ele parece dilatado. As horas não têm fim, não há pressa. É como se os canais isolassem a cidade do resto do mundo. Parece não haver sobressaltos, mas pode ser também a impressão de que os holandeses sabem fazer o dia caber em 24 horas. O trajeto de um lado a outro da cidade não leva mais que 20 minutos e da estação central partem trens para Bruxelas, Antuérpia, Roterdã e Paris em todos os horários.
É inverno e anoitece cedo. A cidade parece cinza à tarde e mergulha num azul profundo antes do escurecer. Van Gogh disse que a Holanda era sim tomada por um cinza. Talvez seja por isso que foi pintar campos de trigo na França muito mais colorida.
E esse tom pode ser menos uma cor e mais um sentimento. A sensação fez Rembrandt usar cores mais sóbrias, enfatizar os contrastes e fazer da sua pintura uma arte fotográfica, bem antes da sua invenção.
A cidade pare refletir o foco seletivo de Rembrandt. Mesmo sóbria, cinzenta, ela grita contrastes, abriga todas as raças e línguas e mantém o foco naqueles que ainda mantém laços com a terra natal.
O mercado de flores da Singel é também reduto de turcos e marroquinos. O Red Light District abriga refugiados do leste europeu e holandeses das ex-colônias espalham sua cultura pelas praças de Amsterdã.
Na cidade onde tudo é permitido, a sensação é de harmonia. Todos os anos, a prefeitura paga indenizações aos familiares de vítimas de acidentes com os trens de superfície, que trafegam no mais assustador silêncio. Serve de ilustração para dizer que aqui as coisas caminham pra frente, a ordem é o progresso, o ponto de partida, a tolerância.
Os trilhos urbanos daqui não têm espaço para quem impede o perfeito funcionamento das engrenagens.
Damrak, na saída da Centraal Station, é uma avenida principal que leva até o centro, a partir de onde a cidade é cortada por canais concêntricos. São três, Herengracht, Keizersgracht e Prinsengracht. Os prédios que margeiam os canais, datados do século XV, debruçam-se sobre a água ou pendem para o lado. Os alicerces de madeira não resistem ao tempo e à infiltração da água que circunda a cidade, que fica dois metros abaixo do nível do mar.
O movimento das construções é lento, centímetros a cada década. Mesmo corroídas, as bases dos prédios parecem não respeitar o tempo. Aqui, ele parece dilatado. As horas não têm fim, não há pressa. É como se os canais isolassem a cidade do resto do mundo. Parece não haver sobressaltos, mas pode ser também a impressão de que os holandeses sabem fazer o dia caber em 24 horas. O trajeto de um lado a outro da cidade não leva mais que 20 minutos e da estação central partem trens para Bruxelas, Antuérpia, Roterdã e Paris em todos os horários.
É inverno e anoitece cedo. A cidade parece cinza à tarde e mergulha num azul profundo antes do escurecer. Van Gogh disse que a Holanda era sim tomada por um cinza. Talvez seja por isso que foi pintar campos de trigo na França muito mais colorida.
E esse tom pode ser menos uma cor e mais um sentimento. A sensação fez Rembrandt usar cores mais sóbrias, enfatizar os contrastes e fazer da sua pintura uma arte fotográfica, bem antes da sua invenção.
A cidade pare refletir o foco seletivo de Rembrandt. Mesmo sóbria, cinzenta, ela grita contrastes, abriga todas as raças e línguas e mantém o foco naqueles que ainda mantém laços com a terra natal.
O mercado de flores da Singel é também reduto de turcos e marroquinos. O Red Light District abriga refugiados do leste europeu e holandeses das ex-colônias espalham sua cultura pelas praças de Amsterdã.
Na cidade onde tudo é permitido, a sensação é de harmonia. Todos os anos, a prefeitura paga indenizações aos familiares de vítimas de acidentes com os trens de superfície, que trafegam no mais assustador silêncio. Serve de ilustração para dizer que aqui as coisas caminham pra frente, a ordem é o progresso, o ponto de partida, a tolerância.
Os trilhos urbanos daqui não têm espaço para quem impede o perfeito funcionamento das engrenagens.